vinte e dois de abril de mil e quinhentos
Hoje eu descobri a ilha de vera cruz. Os que aqui vivem usam quinquilharias em vez de tecidos.
BR-101 (dois mil e cinco)
os portugueses chegaram em Santa Cruz
os africanos foram para Porto Seguro tomar cachaça nos capetas
os japoneses foram para São Paulo vender muamba japonesa
os índios foram para Paraty vender muamba indígena
então rolou,
em Santa Cruz não tem nada pra fazê
e o tempo não passa
cachaça nos capetas é quase de graça
japonês toma uichqui
muamba indígena é sem graça
tudo um real
ô água
dinheiro fácil
sem avalistas
vigiá o carro, moço?
tudo um-real é um-real
Muquéca de pêxe
comida mineira
posto do alemão
carro flex
música sertaneja:
“meu pecado foi o bêjo”
japonês casô
restaurantes com cadeiras de plástico
Brahma
churrasco gaúcho
letreiros na 101
“pressizo de comida”
“água de coco”
“água de côco”
ô pi-co-lééé
foto com índio é um real
em Paraty:
bem vindo a Parati
comida a quilo
aquilo mesmo
no meio dessa loucura
o japonês vomitou o saquê de casório
não existe conexão Bandeirantes-Pinheiros-Imigrantes
choveu pra burro
virei tercenário da tim
roubaram o Ichtépi do fiat
ô fitarono!
e assim foi o brasileiro para a Alemanha

Palafita na Duna (dois mil e vinte e dois)
Coffeeshop
Ponto de partida
A paz no cachimbo
Strong, sim
Refugio
Ponto de partida inevitável
Iluminados
Fulga
Fora do passo no trajeto experimental
Ela seguindo a cadeira
Ele seguindo à cadeira
Buscas Savant na memória
O dia, a hora, a distância
Ponto fixo em Amsterdã
Ela em passos cadentes
Ele em passos redondos
Rumo fixo: prédio com relógio
Meta segura
Lugar
Tempo
Meta insegura
Destino
Hora
Nem um nem outro mais ali
Nem lugar
Nem tempo
Busca: prédio
Busca: relógio
Oração.
Nós no caminho
Distância imensurável
Ali
Aqui
Nossos passos
Nossas rodas
Na rota linda
E tudo era lindo
Todos eram lindos
Todo mundo era Brad Pitt, fita!
Deslumbrante.
Risos,
Distúrbios,
Cadê?
Onde está?
Risadas,
Aberrações,
Gargalhadas,
Êxtases.
O prédio ja não mais estava
Duas voltas mais na busca
Nem prédio, nem relógio
Só nós
E o lugar
E o tempo
E o tudo lindo
Alí
Aqui
O prédio
O relógio
Acima de nós
Os viajantes
Nós em baixo
Os vigilantes
Ali
Aqui
Acima
Aqui estamos
Tão próximos em tempo e espaço que nos ocultamos à Sombra
Eh, lugar bom.
Eh, tempo bom.
Eh, tudo lindo.
Eh, eles.
Eh, nós.
Entre Vistas (dois mil e vinte e três)
Alguns me perguntaram numa entrevista:
Porquê?
Pra quê?
Pra quem?
O que significa isso?
Mas a resposta é sempre a mesma:
O cachorro se chamava Buiu e ponto final.